Crónicas Macaenses

30/06/2009

Somos mais portugueses ou mais chineses? Divagando por aí ...

Macaense é isso aí ... sempre na maior das dúvidas!!! Afinal, somos mais portugueses ou somos mais chineses??? Você tem certeza? Certeza absoluta na sua resposta?
Pra começar, vamos lá !!! Quando vamos viajar para outro país, se tivesse, numa suposição, 2 passaportes, o português e o chinês. Acho que não precisa dizer que você lá vai correndo para a sua gaveta, e pronto!!! O passaporte da Comunidade Européia, o português, logo será verificado se está dentro da validade. Aí somos portugueses 100%, sem hesitação ...
Digamos, chega lá em São Francisco, nos EUA, na terra das 3 associações macaenses reunidas sob a denominação MCC-Macau Cultural Center, será que você irá procurar um portuguese-town para almoçar aquele bacalhau, tentando ser coerente com o seu passaporte CE? Que nada, macaense, você vai correndo para o chinatown, pois ali estão os melhores cozinheiros chineses que emigraram para a terra do Tio Sam. Aí somos mais chineses !!!
E na casa do macaense? Até que achamos um galo do Barcelo, alguns azulejos portugueses com gravações de Portugal, Fátima e lá vai ... mas, a maioria dos enfeites que decoram a sua estante, são chineses. Até santo china e Buda tem, embora seja católico.
Mas, de repente, há uma partida de futebol com o selecionado português e tocam o hino nacional “Lá vamos, cantar o hino ...”. Logo você se levanta em sinal de respeito e patriotismo, põe a mão no peito, canta junto, e lágrimas de saudades até podem escorrer pelo seu rosto. Português patriota não?
Mas,novamente, após a partida em que Portugal ganha a partida e você deu pulos de alegria, é exibido um filme português, mas antes passam os comerciais. Aí você com o controle remoto vai mudando de canal para dar uma olhada, enquanto não começa o filme. Daí depara que também acaba de começar um filme chinês no HBO, daqueles de kung fu, falado em cantonense ... ah, dúvida, volta para o filme português do Manuel e Maria, ou fica nesse daí produzido em Hong Kong? Olha lá a opção de coração? Acho que fica no chinese movie ... sim ou não?
Um dia, vai passear em Lisboa, desabafa nos bacalhaus, caldo verde, carneiro, peixada, etc! Mas, num passeio pelo orla marítima, passa por Estoril, ah ... que tal uma paradinha naquele restaurante chinês que tem Tim Sum? Não resiste, hein?
E a história vai por aí e tanta coisa para comparar. O caso é que o macaense, por mais que ostente o seu nome comprido português, carregue consigo o passaporte português, orgulha-se do seu BI português, morre de saudades dos tempos antigos de pré-transição, torce pelo Benfica etc etc, acaba sempre pendendo pelos costumes chineses, especialmente a comida. Se for natural de Macau, nasceu no meio de 95% da população chinesa. Precisa explicar mais?
Obviamente que não estou a generalizar, nem posso dizer que todos pensam assim, mas que pitorescamente vê-se com freqüência.
Macaense sã assi ... sempre meio a meio !!!

Projecto Memória Macaense, 6 anos

No dia 5 de Junho, o portal/site Projecto Memória Macaense - PMM completou 6 anos de existência.
Tudo começou com uma simples pretensão de construir um site pela primeira vez, após curtir essa vontade por tempos, para expor fotos antigas de Macau guardadas numa gaveta, bem como de outros itens tal como bilhetes de bus e de cinema, etc. Somava-se também a vontade saudosista de manter viva a bandeira histórica do Leal Senado, que foi exposta por um bom tempo na página de entrada. Também não posso deixar de registar a minha imensa satisfação, ao manter viva a imagem dos meus pais e dois irmãos falecidos com a exposição das suas fotos.
Antes, já tinha experimentado montar uma espécie de boletim e divulgado por e-mail. Senti boa receptividade dessa simples iniciativa, o que incentivou-me a montar o site.
Custou para fazê-lo pois não dominava a técnica e a linguagem para construção de sites, que persiste até hoje, mas havia o provedor americano Tripod/Lycos que tinha ferramentas para quem carecia deste conhecimento. Aí o meu problema foi resolvido.

Uma vez montado o PMM, daí em diante ficou por conta a criatividade e o trabalho mental para imaginar o que poderia ser inserido. Por um bom tempo, devido à novidade e o propósito do site, o movimento foi grande com colaboração espontânea de muitos contemporâneos. Conheci muita gente e passei a ficar conhecido. Com o decorrer do tempo, surgiram outros sites e blogs macaenses e naturalmente o público foi diversificando as suas visitas e obviamente, também o PMM deixou de ser novidade. Ainda assim, o PMM possui um perfil próprio contando com espaço musical e de vídeo entre diversos outros, além de reconhecer a RAEM sem esquecer da memória macaense. Afinal de contas, não podemos (nós macaenses da Diáspora) ser egoístas ao ignorar que na RAEM residem milhares de conterrâneos e compatriotas.

Como devem ter visto na postagem anterior deste blog, fiz uma homenagem ao site A Diáspora Macaense da América, que encerrou as suas actividades, pelo bom trabalho desenvolvido para divulgar Macau e a comunidade macaense, especialmente em inglês, sem no entanto, como esclarecido explicitamente, querer intrometer-me em assuntos internos das Casas e Associações macaenses dos EUA. Posso dizer que a carta de despedida do seu autor, foi a batida de martelo para a tomada de decisão que venho a amadurecer há tempos. Um portal/site pessoal como o PMM não deve se envolver em assuntos de Casas de Macau, como a de São Paulo, não só pela questão de sobrevivência mas também por sua independência. Podem esses assuntos ser dos mais variáveis como uma festa, ou de algum outro desagradável. O facto de se envolver na divulgação, acaba tornando uma coisa pessoal numa espécie de porta-voz da entidade, ainda mais que já havia gente que achava que eu tinha obrigações com a Casa. Obviamente não me refiro ao seu Presidente com quem mantenho óptimas relações de amizade e que sabe bem respeitar a propriedade alheia, no caso a minha.
Entendo que se uma Casa de Macau quer divulgar as suas actividades, tem que construir seu próprio site, como já existem de outras Casas, e para isso o responsável por essa área tem que se empenhar para tal fim, como fiz quando fazia parte da direcção em gestões anteriores, até colocando algo pessoal a serviço da associação sem nenhum custo para ela. Para quem não saiba, o PMM é, será e sempre foi totalmente custeado pela minha pessoa. Uma questão de preferência pessoal e disso me orgulho, pois se tivesse que depender financeiramente de alguém, seria preferível fechar as portas.
Para o trabalho que o PMM se prestava antes, há o blog Crónicas Macaenses que pela sua característica cumpre o papel de expressar a minha opinião além de noticiar através de postagens. Um blog é de construção simples que pode ser deletado sem maiores conseqüências, assim como já o fiz anteriormente com um e outro.

E assim caminha o PMM para o seu 7º aniversário em 2010, ano de mais um Encontro das Comunidades Macaense, como assim esperamos e rezamos. E quer fazer mais e mais aniversários, qual seja a sua audiência. O portal é algo que gosto de fazer e sentir satisfação em tê-lo, mesmo que as actualizações não tenham a freqüência recomendada, pois afinal de contas, ele não é dinâmico por não ser um jornal ou boletim informativo periódico, mas pontual em cada assunto. É uma referência na Internet para lembrar ao mundo de internautas que lá no Sul da China, existe Macau e uma gente que se chama Macaense, fruto da presença portuguesa por cerca de 440 anos, que sem ela não teria toda a graça que tem hoje.
Para finalizar, quero agradecer a todos que ofereceram o seu contributo, quer por material ou pela audiência. Muito obrigado!!! (Rogério Luz)