Fiquei feliz em ver o nome de Rodrigo Mendonça figurar entre os jovens da delegação do Rio de Janeiro, que participa do Encontro de Jovens em Macau.
Por ser filho do meu primo e grande amigo desde os anos 60 em Macau, António Bruno Machado Mendonça casado com a simpática Argentina, conheço bem o Rodrigo e o quão macaense ele é, mesmo nascido no Rio de Janeiro onde os seus pais residem.
Penso que jovens conscientes das suas origens e com características que podem atuar no futuro, para a continuidade e preservação das suas raízes, certamente poderão dar o seu contributo para que não sejamos esquecidos para tão já.
Para isso a formação doméstica assume toda a sua importância e disso posso assegurar que o Rodrigo sabe bem. O meu primo António é um dos que soube formar o seu filho para a consciência das suas raízes, pois o seu sentimento macaense é patente.
Não podemos bater no peito e dizer que somos macaenses, que até de alguns se auto denominam “defensores de macaenses”, como num mote eleitoral, sem antes pensar que para ser macaense não é só viver o momento e fazer auto-promoção, mas pensar e dar o exemplo de forma positiva e construtiva para que os jovens sintam satisfação por fazer parte de uma comunidade macaense, além de sentirem o gosto de freqüentar esse meio.
Hoje, infelizmente, quando se pergunta aos jovens do motivo de não freqüentarem o meio macaense na sua associação local, como na diáspora, ouvimos opiniões tais como “não me sinto bem no meio, pois lá se vê intrigas, fofocas (chuchumecas), um tal falar mal de outros, disputas etc.”, sem falar de alguns tradicionais que não os integram, seja qual o motivo, como um deles, por não ter nascido em Macau, além de ficarem a falar o chinês, para que os “estrangeiros” não escutem as suas conversas esquisitas.
Além do que os jovens encontram muitas restrições de pessoas que “adoram falar o não”, quando no uso de equipamentos de lazer, tendo alguns até terem confessado que sentem “medo” de reclamar.
Em São Paulo, temos assistido ao esforço pessoal dos presidentes da Casa, o Júlio “Totó” e atualmente do Alex em favor dos jovens, que têm até merecido noticiário no JTM de minha autoria. É uma batalha dura, como assisti de perto tanto na gestão anterior como membro da direção, como nos dias de hoje. Muitas vezes o presidente se esforça, mas um ou outro colaborador de perto, faz exatamente o contrário, anda na contra-mão, além de alguns membros desinformados da comunidade. Às vezes até fico a lembrar dos tempos de escola no Seminário São José, quando ainda reinava punições aos alunos com réguas, rotas e palmatórias.
Uns falam que não adianta investir nos jovens, mais tem que gastar toda a massa nos tradicionais, pois eles, os jovens, não querem saber de nada e nem freqüentam a Casa.
Exigir que o jovem freqüente a Casa tal como um mais idoso frequenta é pura utopia. Hoje alguns associados ainda vão com alguma freqüência, mais para comer alguma comida macaense ou para participar de atividade específica que exija um ensaio freqüente. Essa freqüência vemos diminuir com o tempo, tanto por óbitos, doença e dificuldade de locomoção, desgosto, ou como dizem uns, para não ver aquele sujeito que não gramam. Sem falar que muitos que já não vão mais há tempos por mágoas, que por causa de uns, acaba a Casa “pagando o pato”. A Casa que, convenhamos, tem que ser enxergada como uma associação para fins culturais e de preservação da identidade, entre as mais importantes finalidades. Para outras finalidades, há órgãos governamentais ou entidades privadas específicas que sabem lidar dentro da legalidade, e não nós sem conhecimento técnico e fora das normas, com uma ajeitada de termos, um assunto que merece ser abordado numa época adequada.
Assim penso que não podemos exigir do jovem uma freqüência e participação de atividades, tal qual como praticada por seus pais ou parentes da geração atual de imigrantes. Não há raciocínio lógico, pois eles têm a sua vida construída no País de acolhimento dos seus pais, dentro dos costumes locais, fora de que já têm construído as suas amizades, meios de lazer e diversão na cidade.
O que podemos sim esperar dos jovens no futuro, é que saibam promover atividades pontuais ou de datas específicas, para lembrar as suas raízes e costumes dos seus parentes, para que possam contar a história de um povo macaense originário de uma presença portuguesa por cerca de 420 a 440 anos, numa cidade que se chama Macau, localizada no Sul da China onde se vive hoje uma perfeita harmonia de culturas, mesmo após a justa transição à sua origem.
Portanto, é merecedora de aplausos a iniciativa do Conselho das Comunidades Macaenses em promover o Encontro de Jovens, que mesmo com um limitado orçamento a permitir apenas a viagem de poucos jovens de cada País da diáspora macaense e dos residentes, vale pela mensagem a eles que não estão esquecidos. Os macaenses de hoje precisam dos jovens no amanhã, para que não fiquem lamentando com sentenças tais como “lá se vai mais um de nós” ou “estamos acabando”. Ficamos felizes por ver que em Malacas como em Goa, ainda há uns resistentes que lembram bem das suas origens. Não teria sido um “ex-jovem filho de outro ex-jovem etc”, cuja família soube contar e conscientizar das suas origens, que em Malaca ainda há rastros da colonização portuguesa? Assim se espera em Macau como na diáspora macaense para daqui a 15, 30, 50 anos ou mais ...